Resenha: Carcereiros - Drauzio Varella
julho 07, 2013
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2012
Páginas: 232
Nota: 5/5
Em Estação Carandiru Drauzio Varella focou seu corajoso relato na população carcerária de um dos presídios mais violentos do Brasil. Mas os vinte e três anos atuando em presídios brasileiros como médico voluntário também o aproximaram do outro lado da moeda: as centenas de agentes penitenciários que, trabalhando sob condições rigorosas e muitas vezes colocando a vida em risco, administram essa população. Foi com um grupo desses agentes que Drauzio passou a se reunir depois das longas jornadas de trabalho, em um botequim de frente para o Carandiru. E essa convivência pôs o autor em contato com os relatos narrados em Carcereiros, segundo volume da trilogia iniciada por Estação Carandiru – o terceiro livro, Prisioneiras, terá como ponto de partida o trabalho do médico na Penitenciária Feminina da Capital. Acompanhamos, assim, uma rebelião pelos olhos de quem tenta contê-la. Entramos em contato com o cotidiano dos carcereiros e as situações desconcertantes impostas pelo ofício, que eles resolvem com jogo de cintura e, não raramente, com humor. O que emerge é um retrato franco de um mundo totalmente desconhecido para quem está de fora. Skoob
Continuando a me aventurar em outras vertentes literárias,
resolvi ler um livro do médico e escritor Dr. Drauzio Varella, do qual estava
muito curiosa. Depois que eu assisti Carandiru, filme do qual foi baseado o
livro Estação Carandiru, fiquei muito intrigada com as histórias mostradas.
Quando me deparei com o segundo livro, Carcereiros, movida pelo mesmo
sentimento, não pensei duas vezes e resolvi lê-lo.
Neste livro ele relata as histórias dos carcereiros com os
quais ele trabalhou durante seus 23 anos de trabalho voluntário nas
penitenciárias, como são suas rotinas, medos, anseios, seus atos heroicos e
covardes, a dedicação ao próximo, a humanidade dentro de cada um deles e os
seus momentos de deslizes com algumas atitudes desumanas. Enfim, toda a
realidade por trás dos muros de uma penitenciária dos quais, muitos de nós ainda
bem, não tem a menor noção do que acontece.
“O carcereiro que faz diferença na imposição da disciplina e na manutenção da ordem nas galerias é aquele capaz de antecipar-se aos acontecimentos inusitados. No entanto, como adivinhar quem prepara um plano de fuga, destila pinga, suborna um funcionário para que traga celulares, drogas ou faça vistas grossas à entrada do revólver que causará a próxima tragédia, sem contar com a colaboração do informante, figura-chave nas cadeias do mundo inteiro? Sem ele não existem bons guardas de presídio.”
A história nos leva além da reflexão, mostrando a dura
realidade dos presídios. Não estou dizendo que quem cometeu algum crime, mesmo
ele sendo hediondo ou não, merece uma vida mais “fácil”. O que cada preso fez e
se ele tem ou não passar por tudo isso, vai da interpretação de cada leitor.
Porém, o que acontece depois dos muros, relatada pelos “olhos” dos próprios
carcereiros, que estão lá desempenhando o seu ofício, não é de todo um “mar de
rosas”.
Alguns relatos chegaram a me tocar profundamente, ora por
raiva, ora por tristeza. Tristeza porque vemos pessoas chegarem ao fundo do
poço e não se darem conta, por diversos motivos dos quais desconhecemos. E
raiva de algumas que sabem e tem a consciência de que nada daquilo que estão
fazendo é certo, porém, mesmo assim se arriscam. Não sei se conseguiria ser
imparcial, como muitas vezes o Drauzio Varella demonstra ser. Mas, temos que
partir da consciência que a vida é de cada um, e só eles podem decidir o que
fazer com elas.
No enredo, diversas experiências são relatadas, mas em todas
somos capazes de perceber o quão difícil e mal remunerado é o trabalho do
carcereiro. Muitos são desvirtuados pelos presos devido aos salários aviltantes
que lhes são pagos. Infelizmente essa é uma grande realidade do nosso país. Em
outros momentos somos levados a histórias cheias de temores e perigosos. Com
vidas sendo encurraladas por uma lâmina de uma faca ou o cano de um revólver em
meio a uma rebelião. Correndo o risco de ter a vida ceifada definitivamente.
Esse é o preço que alguns têm que pagar quando decidem querer a estabilidade instabilidade
do serviço público.
Este livro é a segunda narrativa da trilogia Estação
Carandiru. Pois, segundo o próprio site do autor, ainda haverá um terceiro
livro, que ainda não foi lançado, mas já tem nome. O título será ”Presidiárias”
e contará as histórias das detentas da Penitenciária Feminina de São Paulo.
6 comments
Eu li um livro para adolescentes da Clarice Lispector e já me achei cult!Tenho que aprender a me aventurar com você!
ResponderExcluirhttp://aquelequecomelivros.blogspot.com.br/
Olá Guilherme,
ExcluirFaz pouco tempo que estou nesta nova fase, de experimentar livros "diferentes" dos que estou acostumada a ler. E até o momento, estou curtindo muito!
Para mim, tem sido uma ótima experiência. :D
Bjux
Parece ser bem interessante, com certeza, quando tiver uma oportunidade, o lerei.
ResponderExcluirUltimamente ando meio relaxada, antes eu devorava um livro atrás do outro independente do gênero, aos poucos fui me afastando dos livros... Agora estou lendo A Menina que Roubava Livros *--* é muito bom.
http://diferente-mentee.blogspot.com.br/
Olá Biah,
ExcluirO livro é muito bom mesmo, e se vc puder, leia. Para mim, foi uma experiencia enriquecedora.
Bjux
Esse livro é fantástico. Humano, mostra a realidade das prisões, e ao final mostra o caminho que a sociedade deve seguir - mais educação-menos prisão
ResponderExcluirOlá Anônimo,
ExcluirÉ verdade.
Essa dura realidade das prisões, e as situações que passam os carcereiros no dia a dia do sistema penitenciário é extremamente difícil e revoltante.
Bjux