Resenha: Capitães da Areia - Jorge Amado

dezembro 18, 2012

Autor: Jorge Amado
Ano: 2008
Número de páginas: 288
Editora: Companhia das Letras

Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes.
Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade.

Nunca quis ler livros nacionais, eles eram para mim livros escritos no século passado com conteúdo ultrapassado que só deveriam ser lidos para vestibulares, ou seja, livros chatos. Quando eu penso em literatura brasileira a primeira coisa que vem a cabeça são autores como Machado de Assis, José de Alencar, Carlos Drummond de Andrade e outros autores que não atraem os jovens, mas, sim,  alguns adultos. Eu tinha preconceito com livros nacionais, pois para mim nenhum deles era tão bom tanto quanto livros escritos no exterior, mas eu dei uma chance a nossa literatura e li Capitães da Areia do Jorge Amado, porque tinha a capa mais bonitinha.

À princípio foi uma leitura forçada, não gostava dos Capitães da Areia e seu modo de vida, mania utópica. Mas o modo de Jorge Amado humanizar os personagens, os torna quase palpáveis, você os entende de um modo tão profundo que é assombroso, o motivo de eles furtarem, a sua revolta contra a sociedade rica, a opressão militar, e a falta de amor, de carinho, tudo é compreendido, a pobreza e a exclusão são sentidos por você. É perfeito!

Houve momentos em que eu me revoltei contra os Capitães da Areia, principalmente o Sem-Pernas, não gostava e não gosto dele, mas depois você se revolta contra a sociedade, pois você vê que eles são filhos da soberba e da avareza dela, são filhos bastardos. Desde Pedro Bala com seu espírito de liberdade até Dora com seu amor e carinho aos meninos abandonados, todos os personagens são penetrantes e inesquecíveis, principalmente Dora, mas se eu continuar é spoiler. O livro me fez rir, chorar, sofrer, me revoltar, odiar, amar, e principalmente, me ensinou que a literatura brasileira  é incrível, simplesmente incrível. 

A escrita de Jorge Amado, por incrível que pareça é atual e simples, pois as falas são de meninos de rua, ou seja, não tem instrução, com exceção do Professor. O tema é da década de 30, mas ainda é atual, pois fala de meninos de ruas que são pequenos delinquentes e aquele estereótipo de criança de rua é quebrado, repartido, esmagado, dividido, pois você entende o porquê deles, o motivo e as dores e você vê em Pedro Bala e Pirulito, um desejo de mudança, porém de meios distintos.

Eu recomendo demais, o livro é perfeito, não tenho palavras para escrita e originalidade de Jorge Amado e com certeza me lançarei para outros livros nacionais.


Amei! Adorei! Recomendadíssimo!


Hey, Psiu: Para quem gostou do livro e ainda não conseguiu se desgrudar dos personagens, o livro tem um filme chamado Capitães da Areia baseado nele. O filme foi lançado em 2011 e é dirigido pela neta de Jorge Amado, Cecília Amado. Eu ainda não assisti mais quero muitoooo.

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19 comments

  1. Livro muito bom, participei da versão teatro nos tempos de escola.
    Sim, na minha escola fazemos peça do livro, pois sou de Ilhéus, terra de Jorge Amado. Era bem divertido, não sei se hj em dia ainda fazem.

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    1. Queria muito que fizessem teatros na minha escola sobre Jorge Amado, mas... É sério você mora em Ilhéus! Poxa deve ser muito bom ler um romance de Jorge Amado que fala sobre a sua cidade. Valeu pelo comentário!:D

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  2. Ainda não li nada de Jorge Amado, mas é um autor muito comentado, então pretendo ler algo dele logo, mas não sei se gostaria de Capitães da Areia,não por achar q seja ruim, mas ele aborda um assunto que não me interessa muito.
    E vc mencionou Fernando Pessoa como literatura brasileira, na verdade ele é português. Bjs

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    1. Quanto ao assunto que aborda meninos de rua, desmistifique é muito mais um romance, um drama do que questões sociais. Claro, existe questões sociais, mas dê uma chance, pois você verá como é uma obra incrível.

      Muito obrigado pela correção! Beijos.

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  3. Acho que grande parte da culpa por esse preconceito com literatura nacional,é o fato de que somos OBRIGADOS a ler quando somos crianças.E na maioria das vezes achamos os livros chatíssimos pq realmente falta maturidade para entender alguns.Eu tive que ler muitos livros nacionais para escola,e fiquei anos sem comprar nada.Mas agora isso já passou,e já me deparei com tantos escritores incríveis!Me surpreendo toda vez.As pessoas são muito ligadas só aos clássicos,mas eu me arrisco em livros que ninguém sabe que existe rsss.Ótima sua dica.

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    1. Realmente, a própria escola cria na mente da criança o estereótipo: chato e velho. Infelizmente, eles tentam incentivar e acabam afastando a criança da literatura nacional, é uma pena.
      Eu queria ler mais livros nacionais, mas a minha lista de livros para ler tá enormeeee, mas me recomende alguns livros.

      Beijos e obrigado pelo comentário!

      P.S: eu estou lendo Triste Fim de Policarpo Quaresma, mas tá arrastado.

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    2. Olha depende muito do tipo de literatura que você gosta.Vou indicar os últimos nacionais que li e gostei,que foram:
      *A menina morta - Cornélio Pena.
      *A Solidão do Diabo - Paulo Bentancur.
      *Espíritos de Gelo - Raphael Draccon.
      *A Hora dos Ruminantes - José J. Veiga.
      Mas,80% da minha estante é internacional!Acho que os internacionais são mais atrativos,tanto nas histórias quanto nas capas.Mas,mesmo assim,sempre estou pegando algo nacional para ler.Nunca tive interesse em ler Triste Fim de Policarpo Quaresma,mas sei de gente que amou e outros que acharam chatíssimo.

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    3. Obrigado, vou ver as sinopses deles e ver se me interesso, mas realmente os livros internacionais são muito mais lindos e tem histórias melhores. E quanto ao Policarpo Quaresma, até agora tá muitoooo chato, estou me obrigando a ler.

      Beijos!!!

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  4. Achei interessante! Gostei da sua resenha, muito boa! :D
    tudodoslivros.blogspot.com

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    1. Valeu, muito obrigado! Comentários incentivam à mais posts.

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  5. Eu não tenho vontade de ler esse livro, porque na época da escola ele foi obrigatório como leitura, e todo livro que começo ler por ser obrigatório acaba sendo ruim pra mim ><
    Mas quem sabe futuramente eu de uma chance pra ele.
    E dona Mari de mais chances como essa a livros nacionais, porque tem muitos que são ótimos.

    Beijos ;*
    Pepper Lipstick

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    1. Hum, Bia, quem fez essa resenha não fui eu, foi o Marcelo ;)
      Mas eu não gosto muito de clássicos nacionais, já li alguns e não é meu estilo. Talvez os mais moderninhos hehe

      Beijos!

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  6. Oi ^^

    Lembro que a prof. de literatura do E.M. falou bastante sobre o livro.
    #aindaleio

    Aguardo sua visitinha. Estou seguindo.

    Beijos

    http://www.girlsupimpa.com/

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  7. Um dos melhores livro nacionais que li (e um dos meus favoritos). Confesso que tinha uma resistência à literatura nacional (culpa de Machado de Assis, Lima Barreto, etc). Me apaixonei pela história e pela forma de Jorge Amado escrever. Quanto ao filme, achei meio fraco, sem o mesmo "impacto" do livro, mas ainda assim bom.

    Carlos Magno,
    http://cantinadolivro.blogspot.com.br

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  8. Oi Má!!!
    Amei sua resenha!!!! Confesso que nunca consegui ler esse livro, mas depois que li o seu texto acabei me interessando muuuuuuito!!!!!!
    A literatura brasileira tem muuuuuita coisa boa!!! O que falta para a gente é conhecer e costume de ler. Eu comecei a descobrir muitos livros através de uma revista de literatura chamada "Conhecimento Prático Literatura". Se você se interessar, eles tem um site onde dá pra ver as matérias e dá pra assinar também. É realmente bem legal!!!!
    Bjos.

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    1. Mari, essa resenha quem fez foi o Marcelo, colunista no blog ;D Vou deixar pra ele te responder porque também nunca li esse.

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    2. Poxa, desculpa .... rsrs
      Mas a dica serve pra vc tbm !!!!! Hauauhauahua
      Bjos

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    3. Eu não leio muitos nacionais, especialmente clássicos, porque tenho outros na prioridade de leitura [sei que isso é uma vergonha, mas ler pra mim é divertimento e eu não consigui me divertir com nenhum clássico brasileiro que li :/]
      Beijos!

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  9. Ótima resenha Mari.
    Recentemente tive que ler o livro para prova do colégio e para entender melhor a Geração de 30. Amei livro, amei a parte do carrossel, ver aqueles meninos pobres fugir um pouco da realidade, resgatarem a "criança" que tinha dentro deles, foi perfeito.
    Assim como você, também não gostei do Sem-Pernas, principalmente quando ele finalmente é amado por alguém e deixa a mulher sofrer. Sem-Pernas é o ódio puro.
    Jorge Amado tem uma escrita realmente envolvente, cativa qualquer bom leitor.

    http://devaneioselivros.blogspot.com

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